Os Pregos

Era uma vez um jovem que tinha um mau carácter. O seu pai deu-lhe uma bolsa de pregos e disse-lhe que, todas as vezes que perdesse a paciência, deveria pregar um prego na porta. Depressa a porta se encheu de pregos.
Porém, à medida que ia controlando o seu mau génio, pregava cada vez menos pregos na porta. Foi descobrindo que podia controlar as suas más atitudes.
Chegou um dia em que conseguiu controlar o seu carácter e já não precisou de pregar pregos. Depois de informar o seu pai, este sugeriu-lhe.
- Cada vez que controles o teu mau carácter, retira u prego da porta.
Os dias passaram e o jovem anunciou ao pai que já não havia mais pregos para retirar. Foi então que o pai lhe disse:
- Esforçaste-te muito e conseguiste tirar todos os pregos. Repara, porém, que a porta já não é a mesma. Todas as vezes que perdes a paciência, deixas cicatrizes. Podes insultar uma pessoa e retirar o que disseste, mas a ferida fica para sempre.

O que fazemos de mal, mesmo que nos arrependamos, deixa as suas marcas. Procura não deixar marcas destas nos outros!

Que dirias de mim?
O coração é grande, tão grande que muitas vezes espreitamo-lo com excessivo respeito, como se fosse um espaço sagrado. E é de facto. É lá que acontece grande parte da nossa vida, talvez aquela que não é vista pelo próprio. Como quem entra num átrio onde acontece uma cerimónia solene e não se sabe onde nos sentarmos, a quem nos dirigimos ou o que dizermos. Complicamos e perguntamo-nos. Porque sou tão grande? Não podia ser mais pequeno, mais acessível, mais legível, mais controlável? Porque sinto o que não quero?
O coração pede, de nós, respeito para que o deixemos ser como é, à sua maneira, sem juízos ou pretensões. Que o observemos e agradecemos por aquilo que vivemos. Só ele dirá a verdade do que somos. Da grandeza que somos.
Talvez um dia, já depois de ter entrado neste átrio cheio e vivo, confuso ou ordenado, festivo ou discreto, exuberante ou silencioso, possa perguntar a Deus: que dirias de mim?

in Toques de Deus